segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O Verso Mateia Comigo

Um verso se veio do campo,
Desencilhou pra matear comigo.
Botou um cerne de angico no fogo
E trouxe as prosas de um velho amigo...
Contou-me histórias de vento e lua,
Tomou uma pura pra aquietar as ‘mágoa’,
Contou cueradas de canchas e domas
E de terra e pasto dessas invernadas.
Jujou maçanilhas no mate lavado,
Encilhou amargos de ilusão,
Compôs payadas, milongueou uns troços,
Quebrou os ossos d’alguma canção.
Aninhou a rima, chocou uns versos
Que um dia, solito, assobiei pra mim,
Olhou-me nos olhos, lavrou-me a calma,
Jujou-me a alma de sanga e capim...
Depois, agradeceu o mate,
Se foi pro embate de um novo dia.
Deixou mornas as brasas do angico,
Deixou-me rico de tempo e poesia.

Caco de Paula
01/10/2003

sábado, 28 de novembro de 2009

Pra um fim de tarde.

Já faz parte do meu gosto, encilhar o baio no fim de tarde.
Antes do mate, a camperiada, pra horas que o dia se encarde.
Enquanto o sol vai alongando a sombra do macegal,
Sou eu, o baio e o cusco, nas voltas do manantial.

Meu baio é mais que um parceiro... Um companheiro pra toda lida!
Mesmo que eu durma nas encilhas do tempo, ele conhece os caminhos da vida.
Com afagos, domei este potro – bem mais que a rédea e buçal,
Forjado no baio, tal qual um centauro, retrata a estampa de um general.

O cusco coleira, vai sempre ao meu lado. É feito uma sombra abaixo do estribo.
Se um tompaço da vida me leva do pago, este cusco parceiro vai junto comigo.
Quando o sol, que é tão velho quanto a pampa, vem pra acordar o mundo,
Feito uma sombra campeira, se vai comigo o cusco coleira, direito a invernada do fundo.

Meu mate, sagrada herança charrua, me espera depois da lida...
Têm gosto de boas-vindas os braços da minha xirua.
Que esperou, ansiosa, voltar este peão,
Pra camboniar noutro mate jujos de sonho e ilusão.

Me sobram motivos pra cantar esta vida, pois a lida me ensina o que busco saber...
E esta simplicidade, é toda a fortuna que preciso pra viver.
Um baio parceiro, um cusco bem companheiro pras lidas do dia a dia,
Uma mulher carinhosa, um mate pro’s dedos de prosa... Que mais, posso querer?


Caco de Paula.
12/12/2008

Louco Amar.

(Para minha espôsa Monica)


Eu quero te olhar nos olhos,
Amar-te sem medo que eu vá sofrer.
Eu quero te fazer carinho e devagarzinho te enlouquecer.
Eu quero me rir à toa de tanta coisa boa que eu vá viver
Que ate mesmo pros meus sonhos loucos
Uma noite seja pouco até o amanhecer.

Eu quero te pegar no colo e cantar sonetos para te embalar.
Eu quero beber um verso e numa poesia me embriagar.
Eu quero esperar a lua andando pela rua sem hora pra chegar
E gritar para as estrelas que elas tem o mesmo brilho que o teu olhar.
Eu quero chorar cantando e cantar chorando minha inspiração
E poder dizer em versos que essa euforia se chama paixão.

Arrancar-te um sorriso que clareie a noite do meu coração,
E no teu olhar me devanear, ate por completo, perder a razão.
Forjar teu nome em meu peito como forja a abelha o mel da flor
E gritar aos quatro ventos que isso só acontece quando é amor.
Fazer de minha sinfonia, você, a nota principal...
E te tornar parte da minha vida, dês deste momento (cada momento) ate o final.



Caco de Paula.
06/2003

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Velha Negra do Pago


Velha negra, crioula do meu pago,

Quantas vezes ao teu lado, vi a noite passar,

E o dia, ao chegar, me pegou de mate lavado.

Velha negra, quantas vezes, te contei minhas penas,

E tu, sempre serena, chiava baixinho um canto amigo,

E ali, ficava comigo, junto ao pai-de-fogo,

A sentir todo o retovo que te aquecia por dentro

Enquanto eu sorvia, lento, os jujos de tua alma.

Sempre me doeu, negra velha, te ver nos outros ranchos,

Esquecida pelos cantos, cheirando a picumã,

Mas este teu afã, de ser mais que serviçal,

Te fez um símbolo bagual dos ranchos e das tropedas.

Por isso, no meu rancho, és amiga e não escrava.

A modernidade fez chegada e me trouxe a chaleira,

Mas tu, cambona campeira, jamais deixarei de lado.

Gosto de te ter no constado, a bombear madrugadas comigo,

Enquanto teu chiado amigo vai me contando segredos,

Eu te conto dos enredos nas horas do mate amargo.

Caco de Paula

26/11/2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Tributo a Knelmo Alves

Nos discos da estante, seus versos descansam
Carregados de ânsias que os fazem cantar.
E na voz de quem canta, o mesmo sentido,
O mesmo gemido, o mesmo sonhar...

São coisas simples descritas nos versos,
Mas, que trazem pra perto o que mora longe.
Retratam em palavras sonhos dispersos
Que guardam nas retinas o mesmo horizonte.

São gente simples como os versos que falo,
Que se encontram na mesma canção.
E ao ouvirem as palavras, se calam.
Pois elas falam ao seu coração.

Destinos diferentes traçaram pra si,
Cada qual com seu sonho... Sua dor!
Porem, a mesma realidade os esperava
Na última dobra do corredor.

Hoje envoltos nos versos que escutam,
Encontram um pouco do que já se foi,
Na lembrança de um gosto da infância,
Uma canga, um relincho, um berro de boi...

Descansa em paz, velho poeta,
- dos versos simples, que sabem falar -
Que tuas verdades hão de ser imortais
Nos discos da estante, que não querem calar.




16/06/2006
Caco de Paula.

Penas

A pena do tempo, que voa ao vento

Lembra-me a pena daquele sabiá,

Que a beira da sanga, ainda criança,

Eu juntei um dia afim de brincar.

Juntei muitas penas, dos galos da estância

Que junto à palha viravam petacas

Pra um sonho guri...

E o que aprendi, sobre penas e homens,

É que o que mais nos consome é como pássaro fugaz,

E pela tarde se vai, buscando um novo horizonte,

Levando o tempo defronte e deixando recuerdos pra traz.

E aquele guri, que a beira da sanga, colhia pitangas e penas multicor...

Cresceu, se fez homem... Contando suas penas e dores de amor.

Hoje o tempo, qual pássaro que migra,

Debanda pra longe do meu sonho piá,

Deixando pra traz, na arapuca quebrada

Um chumaço de penas, pra peteca da vida...

Não sou, nem, partida que o tempo é chegada,

Não sou mais estrada, que o destino é caminho...

Mas, sou ainda aquele menino, a colher penas por achá-las bonitas.

E quem diria que tempo teatino,

Poria tantas penas pelo meu caminho,

Que eu nem mesmo poderia contar...

Caco de Paula

10/11/2009

Tributo a Luiz Menezes.

E vi no amanhã

A esperança de ver em meu filho

O que hoje sou,

Porém, melhor do que jamais serei.

E dizer nas palavras, sábias,

Que ele terá um mundo novo e melhor...

E vi na aurora o brilho do hoje que se faz amanhã,

E vi no luar, o lumir dos meus antepassados.

E vi, pois olhei, e não me calei:

Gritei o mais alto que pude e o mais forte que sei!

... E vi, pois busquei em olhar encontrar novos horizontes.

E vendo, embriaguei os meus olhos de poesia e de campo

E deixei-me ninar pelos braços fecundos da terra,

E floresci primaveras nos meus sonhos de outono.

E vestido de um vento morno, que me despiu n’alguma infância perdida,

Ouvi minha voz – já há muito esquecida – a cantar poesias num lamento milongueiro...

E me despi do acalanto, e me vesti de poeira e campo,

Para ver com meus olhos de lua, a pampa que herdei.

E vi no amanhã

A esperança de ver em meu filho

O que hoje sou,

Porém, melhor do que jamais serei...

Caco de Paula

28/09/2002