sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Vó Campeira



O corpo curvado, antes ereto.
A pele flácida que foi tão macia.
Os olhos fracos vagando dispersos
Como a rever, como foram seus dias.
As mãos tremulas, mal seguram a vassoura,
A mente confunde o presente e o passado.
Na companhia de linha e tesoura
Ocupa a vida entre crochê e bordado.
O tempo é mais do que soma das horas,
É um remédio e também um veneno...
Amortece as dores a cada aurora
E também nos mostra o quanto somos pequenos.
Se por um lado perdoa – aproxima –,
Por outro, leva pra sempre os seus.
E no espelho a avó se pergunta:
– La pucha! Quando sou eu...?
Foram-se os anéis e ficaram-se os dedos nodosos,
Em mãos enrugadas por planta e capina.
E o inverno do tempo marcou os cabelos
Bem como a geada prateia a campina.
Matando o tempo nas horas do mate,
Sentindo aos poucos que o tempo lhe mata.
Senta-se a avó na varanda do tempo
Sorvendo lembranças na bomba de prata.

Caco de Paula
06/12/2009

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