quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Na Tropa dos Anos.

(Para o amigo Edegar Soares)


Mais um cavalo se achega para a tropilha da existência.
Este, começa hoje a ser amanunciado.
Desencilho o meu gateado, que me segui no último ano,
E encilho este tobiano que não tem o queixo quebrado!
Hoje, relembro do petiço, que montei quando guri,
Que como o tal de Mitay era pequeno de estrutura,
Mas faltavam lonjuras pras patas desse cavalo.
Depois, montei um baio-oveiro,
Sestroso e passarinheiro, desconfiado e redomão.
Pra adolescência de um peão, só mesmo um queixo duro,
Que lhe prepare pro futuro e para as dobras da estrada.
Quando encilhei meu rosilho, a estrada já era parceira.
Quantas vezes plantei a figueira, só pra aprender a levantar.
Mas no oficio de domar, aquilo que mais me encanta,
É ver a pateada mansa daquilo que já foi tão xucro.
Enfrenei outros potros, é bem verdade...
Uns ficaram mansos feito uma tarde, outros, me deixaram curto dos pilas,
Mas, todos botei na tropilha, e jamais desisti de nenhum!
Fosse um matungo comum, ou fosse um crioulo bueno,
Cada um dos cavalos que enfreno, sempre me ensinam algo a mais.
Agora, tiro as garras do gateado pra sentá-las neste tobiano.
Será para a doma deste ano e será enfrenado bem na minguante!
Há de ser doce de boca, pra viajar a escoteiro,
Cavalo piqueteiro que ha de estar sempre a mão.
Pras horas de precisão, cavalo solto das patas,
E quando as horas forem ingratas, mais que um cavalo, um amigo.
Me paro a pensar no próximo pingo:
- Será ele um tordilho?
Ainda me falta amanunciar tanto pelo...
Mas para quem traz nos peçuelos uma colméia de versos,
Tanto faz o pelo inserto que virá na próxima doma.
Se terá alma redomona, ou mansa feito água de rio,
Só hei de conhecer o desafio nos pastos do ano que vem,
Mas, de uma coisa sei bem, sou desses que não se achica,
E quem quiser ter uma tropilha bonita, cuide agora do pingo que tem.


Caco de Paula.
11/01/2010.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Vó Campeira



O corpo curvado, antes ereto.
A pele flácida que foi tão macia.
Os olhos fracos vagando dispersos
Como a rever, como foram seus dias.
As mãos tremulas, mal seguram a vassoura,
A mente confunde o presente e o passado.
Na companhia de linha e tesoura
Ocupa a vida entre crochê e bordado.
O tempo é mais do que soma das horas,
É um remédio e também um veneno...
Amortece as dores a cada aurora
E também nos mostra o quanto somos pequenos.
Se por um lado perdoa – aproxima –,
Por outro, leva pra sempre os seus.
E no espelho a avó se pergunta:
– La pucha! Quando sou eu...?
Foram-se os anéis e ficaram-se os dedos nodosos,
Em mãos enrugadas por planta e capina.
E o inverno do tempo marcou os cabelos
Bem como a geada prateia a campina.
Matando o tempo nas horas do mate,
Sentindo aos poucos que o tempo lhe mata.
Senta-se a avó na varanda do tempo
Sorvendo lembranças na bomba de prata.

Caco de Paula
06/12/2009