quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Velha Negra do Pago


Velha negra, crioula do meu pago,

Quantas vezes ao teu lado, vi a noite passar,

E o dia, ao chegar, me pegou de mate lavado.

Velha negra, quantas vezes, te contei minhas penas,

E tu, sempre serena, chiava baixinho um canto amigo,

E ali, ficava comigo, junto ao pai-de-fogo,

A sentir todo o retovo que te aquecia por dentro

Enquanto eu sorvia, lento, os jujos de tua alma.

Sempre me doeu, negra velha, te ver nos outros ranchos,

Esquecida pelos cantos, cheirando a picumã,

Mas este teu afã, de ser mais que serviçal,

Te fez um símbolo bagual dos ranchos e das tropedas.

Por isso, no meu rancho, és amiga e não escrava.

A modernidade fez chegada e me trouxe a chaleira,

Mas tu, cambona campeira, jamais deixarei de lado.

Gosto de te ter no constado, a bombear madrugadas comigo,

Enquanto teu chiado amigo vai me contando segredos,

Eu te conto dos enredos nas horas do mate amargo.

Caco de Paula

26/11/2009

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